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Efeitos de uma dieta com diferença cátion aniônica negativa por um período prolongado no pré-parto sobre os metabólitos no soro e na urina e sobre o desempenho

J. Dairy Sci. 97 :7133–7143 http://dx.doi.org/ 10.3168/jds.2014-8273 © American Dairy Science Association®, 2014 .

Z. Wu,*1 J. K. Bernard,*2 K. P. Zanzalari ,† e J. D. Chapman † *
University of Georgia, Animal and Dairy Science Department, Tifton 31793
† Prince Agri Products Inc., Quincy, IL

RESUMO

Quarenta e cinco vacas Holandesas multíparas e 15 novilhas Holandesas foram utilizadas em um ensaio de delineamento de blocos aleatorizados para determinar o efeito da duração de uma dieta com diferença cátion aniônica (DCAD) negativa no pré-parto sobre os metabólitos no soro e na urina, sobre a ingestão de matéria seca (MS) e o rendimento e composição do leite. Após o treinamento para comer em alimentadores automáticos do tipo Calan Gate (American Calan Inc., Northwood, NH), as vacas de mesma paridade foram atribuídas aleatoriamente a 1 de 3 tratamentos e alimentadas com uma dieta com DCAD negativo por 3 (3S), 4 (4S) ou 6 semanas (6S) antes do parto previsto. Os dias experimentais em que as vacas foram alimentadas com dietas com DCAD negativo foram 19,2 ± 4,1, 27,9 ± 3.1 e 41,5 ± 4,1d por 3S, 4S e 6S, respectivamente. Antes do ensaio, todas as vacas foram alimentadas com uma dieta rica em forragem e com pouca energia. Durante o ensaio, as vacas foram alimentadas com uma dieta formulada para o final da gestação (14,6% PB, 42,3% FDN, 20,5% amido, 7,1% cinzas e 0,97% Ca) suplementada com Animate (Prince Agri Products Inc., Quincy, IL), com um DCAD resultante (Na + K – Cl – S) de −21,02 mEq/100 g de MS. Após o parto, as vacas foram alimentadas com uma dieta formulada para o início da lactação (18,0% PB, 36,4% FDN, 24,2% amido, 8,1% cinzas e 0,94% Ca) durante as 6 semanas seguintes com um DCAD de 20,55 mEq/ 100 g de MS. O pH da urina não foi diferente entre os tratamentos antes do parto e teve média de 6,36. Não foram observadas diferenças na ingestão de MS pré-parto, que foi em média 11,4, 11,5 e 11,7 kg/d para 3S, 4S e 6S, respectivamente. As concentrações séricas de proteína, albumina e Ca no pré-parto e a diferença aniônica ficaram dentro dos limites normais, mas diminuíram linearmente com o aumento do tempo em que as vacas foram alimentadas com uma dieta com DCAD negativo. Não foram observadas diferenças nas concentrações séricas de metabólitos no dia do parto. No pós-parto, as concentrações séricas de proteína total e globulina aumentaram linearmente com o aumento do tempo de alimentação com uma dieta com DCAD negativo. Não foram observadas diferenças no pósparto referentes a ingestão de MS, produção de leite ou concentração de gordura ou proteína entre os tratamentos: 19,1 kg/d, 40,6 kg/d, 4,30% e 2,80%; 19,6 kg/d, 41,5 kg/d, 4,50% e 2,90%; e 18,6 kg/d, 41,0 kg/d, 4,30%, e 2,73% para 3S, 4S e 6S, respectivamente. Os resultados deste ensaio indicam que não existem diferenças na saúde, produção ou componentes do leite em vacas alimentadas com uma dieta com DCAD negativo por até 6 semanas no pré-parto, em comparação com aquelas que receberam uma dieta com DCAD negativo por 3 ou 4 semanas no pré-parto. Palavras-chave: diferença cátion aniônica da dieta, produção de leite, composição do leite

INTRODUÇÃO

A transição do final da gestação para a lactação requer enormes adaptações fisiológicas das vacas leiteiras, o que pode afetar significativamente a lactação seguinte e a reprodução subsequente. O manejo nutricional durante o período de transição é desafiado pela redução de IMS durante o período final da gestação, associado a um aumento drástico das necessidades de nutrientes após o parto. Um dos desafios mais significativos envolve a homeostase de Ca e pode resultar em hipocalcemia clínica ou subclínica. Block (1984) relatou que as vacas que apresentaram hipocalcemia clínica durante o período periparturiente imediato produziram 14% menos leite do que as vacas com concentrações séricas normais de Ca. Além da diminuição da produção de leite, as vacas que apresentaram hipocalcemia clínica ou subclínica possuem maior risco de desenvolvimento de outras doenças metabólicas (Curtis et al., 1985). A alimentação com dietas com DCAD negativo estimulou a absorção e a mobilização de Ca, prevenindo assim a ocorrência de hipocalcemia, manteve a IMS e melhorou a produção de leite pós-parto (Block, 1984; DeGroot et al., 2010). Animate (Prince Agri Products Inc., Quincy, IL) é um suplemento mineral aniônico contendo (% de MS), 13,9% Cl, 5,4% S, 4,8% Mg, e 39,0% de PB, concebido para uso em dietas de vacas secas para acidificar a dieta, reduzindo a incidência de hipocalcemia clínica e subclínica, resultando em maior IMS e produção de leite pós-parto (Puntenney, 2006). A alimentação com uma dieta com DCAD negativo a partir de 21 dias pré-parto demonstrou ser eficaz na prevenção da hipocalcemia (Chan et al., 2006; DeGroot et al., 2010). Degaris et al. (2008) relataram um aumento de LCE (leite corrigido para energia) e da produção de proteínas do leite no pós-parto quando as vacas foram alimentadas com dietas de transição pré-parto com um DCAD de −15 mEq/100 g por 25 e 22 dias no pré-parto, respectivamente. A maioria dos estudos têm se concentrado no efeito da alimentação com níveis variáveis de DCAD, mas poucas pesquisas têm sido realizadas sobre a duração da alimentação de vacas no período de transição com dietas com DCAD. O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos da duração do período de alimentação com uma dieta préparto com DCAD negativo sobre os metabólitos séricos e o desempenho pós-parto.

MATERIAIS E MÉTODOS

Quarenta e cinco vacas leiteiras e 15 novilhas Holandesas primíparas foram utilizadas em um ensaio de delineamento de blocos casualizados a partir de 21 ± 3, 28 ± 3, ou 42 ± 3 dias pré-parto. As vacas foram designadas para o tratamento com base na data prevista do parto e na paridade. Uma vez que algumas vacas pariram mais cedo ou mais tarde do que o previsto, os tratamentos foram atribuídos com base nos dias de alimentação com a dieta com DCAD negativo de acordo com a data real do parto, e foram definidos como menos de 24 dias (3S), 25 a 34 dias (4S), ou mais que 36 dias (6S), designando 23, 18 e 18 animais para cada tratamento, respectivamente. Uma vaca primípara foi excluída do ensaio por conta de um parto pélvico. Todos os protocolos foram aprovados pela Comissão Institucional no Cuidado e Uso de Animais (Institutional Animal Care and Use Committee) da Universidade da Geórgia (Tifton). Antes do início do ensaio, as vacas foram alimentadas com uma dieta rica em fibras, com pouca energia, baseada em feno de grama-bermuda, silagem de milho e concentrado suplementar para atender aos requisitos do NRC (2001) de proteínas, vitaminais e minerais. Antes do início do ensaio, as vacas foram treinadas para comer em comedores automáticos do tipo Calan Gate (American Calan Inc., Northwood, NH). As vacas foram alojadas em sistema de freestall em um celeiro equipado com ventiladores e aspersores e tinham acesso ilimitado a um espaço para exercícios físicos. As vacas foram transferidas para uma área de pasto ou baia para o parto, e retornaram para o celeiro após o parto. As dietas experimentais foram formuladas para atender aos requisitos do NRC (2001) para o final da gestação e início da lactação (Tabela 1). Animate (suplemento mineral aniônico; Prince Agri Products Inc., Quincy, IL) foi incluído na dieta de final de gestação como agente acidificante. A quantidade de alimento foi ajustada após a medição do pH urinário, para manter um pH dentro do intervalo de 6,0 a 6,5 durante os primeiros dias do ensaio. Uma vez determinada a quantidade necessária para atingir o pH desejado, a quantidade de alimento foi mantida durante todo o ensaio, como demonstrado na Tabela 1. As dietas experimentais foram misturadas e ofertadas uma vez por dia com o misturador DataRanger (American Calan Inc.). As vacas tinham acesso livre à água durante todo o dia. A quantidade de ração fornecida foi ajustada para manter um mínimo de 5% de sobras. A quantidade de ração oferecida e das sobras foi registrada diariamente.

Amostras dos ingredientes da dieta, da TMR e das sobras foram coletadas 3 dias por semana e analisadas quanto ao conteúdo de MS por secagem das amostras a 50°C por 48 horas em um forno com função ar forçado. As amostras individuais foram moídas para passar por uma tela de 6mm com um moinho do tipo Wiley (Thomas Scientific, Swedesboro, NJ) e compostas em amostras por semana. Uma sub-amostra foi moída para passar por uma tela de 1mm antes da análise de cinzas (AOAC International, 2000), N (Leco FP-528 Nitrogen Analyzer; Leco Corp., St. Joseph, MO), FDN (Van Soest et al., 1991), FDA (AOAC International, 2000), amido (Hall, 2009), açúcar (DuBois et al., 1956) e extrato etéreo e minerais (AOAC International, 2000). Após o parto, as vacas foram ordenhadas 3 vezes por dia a partir de 0000, 0800 e 1600 h. Os pesos do leite foram registrados eletronicamente a cada ordenha (Alpro; DeLaval Inc., Kansas City, MO), totalizados todos os dias e calculados por média semanal. As amostras de leite foram coletadas de 3 ordenhas consecutivas a cada semana para análise das concentrações de gordura, proteína, lactose, SNG e NUL por espectrofotometria de infravermelho médio com o instrumento Foss 4000 (Foss North America, Eden Prairie, MN; Dairy One Cooperative, Ithaca, NY). O peso corporal das vacas foi registrado em 3 dias consecutivos durante -3 semanas pré-parto, nas semanas 3 e 6 pós-parto e uma vez imediatamente após o parto. O acesso à água e à ração foi restrito até as medições serem registradas. Os escores de condição corporal foram atribuídos ao mesmo tempo por 2 indivíduos em uma escala de 1 a 5 como descrito por Wildman et al. (1982). Duas amostras de sangue total foram coletadas das veias coccígeas às 0900 h uma vez durante as semanas -6, -4, -3, -2 e -1 pré-parto, no parto e durante as semanas 1, 2, 3 e 6 pós-parto. Uma amostra foi utilizada para a determinação das concentrações séricas de glicose, nitrogênio ureico, proteína total, albumina, creatinina, bilirrubina total, aspartato aminotransferase (AST), creatina quinase, gama glutamil transferase (GGT), Ca, P, Mg, Na, K, Cl e bicarbonato, e da diferença aniônica, utilizando um analisador bioquímico automatizado Boehringer Manheim/Hitachi 912 (Roche Laboratory Systems, Indianapolis, IN). As concentrações de bicarbonato foram determinadas com métodos enzimáticos baseados na reação catalisada pela fosfoenolpiruvato carboxilase de HCO3- com fosfoenolpiruvato para produzir oxaloacetato. A malato desidrogenase foi utilizada para catalisar a reação do indicador. O soro foi separado da segunda amostra e analisado para a concentração de NEFA com um procedimento enzimático (Waco Chemicals USA Inc., Richmond, VA). As concentrações séricas de BHBA foram determinadas com a utilização de Nova Max Ketone Strips e com o leitor Nova Max Plus (Nova Biomedical Corp., Waltham, MA). As amostras de urina foram coletadas nos mesmos horários para as análises de concentrações de pH e eletrólitos, como descrito acima. Os dados foram analisados com o software PROC MIXED da SAS (SAS Enterprise 4.2; SAS Institute Inc., Cary, NC). O modelo incluiu bloco, tratamento, semana e suas interações. O mérito genético (PTA de vacas multíparas e ETA de novilhas) foi incluído como covariável para as variáveis de produção. As declarações de contraste foram incluídas no modelo para avaliar os efeitos lineares e quadráticos do tratamento. As vacas no tratamento foram incluídas como um efeito aleatório e semana como uma medida repetida. A significância foi estabelecida em P < 0,05 e as tendências em 0,05 < P < 0.10.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A composição química das dietas experimentais é apresentada na Tabela 2. As concentrações de nutrientes em cada uma das dietas foram consistentes com os valores formulados. O DCAD [(Na + K) – (Cl + S)] das dietas pré-parto e pós-parto foram -21,02 e 20,55 mEq/100 g, respectivamente.

Resposta pré-parto

O pH da urina ficou dentro da margem desejada no pré-parto (entre 6,0 e 6,5) e apresentou médias de 6,44, 6,22 e 6,43 para 3S, 4S e 6S, respectivamente (Tabela 3; Figura 1). O pH da urina pré-parto é um importante indicador de acidificação sistêmica. Uma incoerência nas pesquisas sobre acidificação pré-parto tem sido a grande variação entre os estudos a respeito do nível de acidificação sistêmica. Essa diferença pode ser responsável pelas diferentes respostas observadas nas concentrações séricas de metabólitos e nas respostas de saúde e produção pós-parto entre os estudos. Embora não tenha sido detectada nenhuma interação tratamento x semana, o pH da urina das vacas 6S tendeu a aumentar mais durante a última semana de gestação do que o das vacas que receberam um dos outros 2 tratamentos. Weich et al. (2013) relataram um aumento do pH de vacas alimentadas com uma dieta com DCAD negativo por 42 dias em comparação com 21 dias. No entanto, o aumento do pH da urina começou na semana -3.

A IMS (kg/d ou % de PC) não foi diferente (P > 0,10) entre os tratamentos e apresentou médias de 11,4, 11,5 e 11,7 kg/d e 1,70, 1,68 e 1,73% do PC para 3S, 4S e 6S, respectivamente (Tabela 4). No entanto, a IMS diária foi ligeiramente maior em 3S em comparação com 4S no dia -21 e menor em 4S em comparação com 3S e 6S no dia -1, resultando em uma tendência (P = 0,06) para uma interação do tratamento por dia no pré-parto (Figura 2).

Figura 1. O pH urinário das vacas alimentadas com uma dieta com DCAD negativo por 3 (3S), 4 (4S) ou 6 semanas (6S) pré-parto e uma dieta com DCAD positivo pós-parto (tratamento x semana: P > 0,10). As vacas foram alimentadas com dietas com DCAD negativo por 3 a 4 dias antes da coleta da amostra da semana -3, e o pH da urina da semana 0 foi medido no dia do parto. Os dados representam a média dos mínimos quadrados ± EPM.

As concentrações de metabólitos e minerais selecionados no soro e na urina durante as semanas -3 a -1 são apresentadas na Tabela 3. Foram observadas diminuições lineares nas concentrações séricas de proteína total (P = 0,03), albumina (P = 0,01), Ca (P = 0,02) e K (P = 0,07) e na diferença aniônica (P = 0,006) à medida que o tempo da alimentação com dietas com DCAD negativo aumentou. Uma resposta quadrática foi observada no pré-parto para as concentrações séricas mais baixas de Na (P = 0,03) em 4S em comparação com 3S e 6S, o que mais provavelmente reflete as diferenças na secreção urinária de Na, que foi numericamente maior para 4S (P = 0,11). Uma tendência semelhante para uma resposta quadrática foi observada para a concentração sérica de bicarbonato (P = 0,05), o que reflete as alterações no equilíbrio ácido-base para manter a homeostase. Não foram observadas diferenças nos metabólitos séricos restantes.

 

O aumento linear observado nas concentrações séricas de Ca total e na diferença aniônica pré-parto para 3S em comparação com 4S e 6S são consistentes com o aumento linear das concentrações séricas de albumina. A albumina é uma proteína carregada negativamente que se liga ao Ca, e mudanças nas concentrações de albumina podem alterar as concentrações totais de cálcio (Payne et al., 1979). Payne et al. (1979) propuseram ajustar as concentrações de Ca total para as concentrações de albumina para acessar as alterações nas concentrações de Ca total. Quando corrigido para as concentrações de albumina, o Ca total pré-parto exibiu uma tendência para uma diminuição linear (P = 0,07) com o aumento do tempo em que dietas com DCAD negativo foram ofertadas (9,45, 9,13 e 9,22 mg/ dL para 2S, 4S e 6S, respectivamente). A correção da albumina não alterou a resposta. Embora as concentrações séricas de Ca (não ajustadas e ajustadas) tenham sido menores para 4S e 6S em comparação com 3S, as concentrações ficaram dentro do intervalo normal. O Ca ionizado (iCa) é um indicador mais confiável do que o Ca sérico total para indicar o efeito biológico do Ca (Dauth et al., 1984; Ballantine and Herbein, 1991; Saccon et al., 1995) e deve ser examinado em ensaios futuros para monitorar as alterações reais no Ca sérico disponível.

Resposta no dia do parto

No dia do parto, foi observada uma resposta quadrática no pH da urina, que foi menor em 4S em comparação com 3S e 6S (Tabela 5). A acidificação do sangue estimula a secreção do hormônio da paratireoide e inicia a mobilização óssea de Ca e a produção renal de 1,25-di-hidroxivitamina D, aumentando assim o nível de Ca após o parto (Bichara et al., 1990), o que provavelmente reduziria o risco de febre do leite ou de hipocalcemia subclínica. Não foram observadas diferenças (P > 0,10) nas concentrações séricas de Ca no dia do parto para 3S, 4S e 6S, que foram em média 7,82, 7,32 e 7,87 mg/dL, respectivamente. Embora as vacas alimentadas com dietas com DCAD negativo por mais de 24 dias no pré-parto tenham apresentado concentrações séricas mais baixas de Ca no pré-parto (Tabela 3; Figura 3), isso não parece ter afetado negativamente a homeostase de Ca no parto. Isso é consistente com o estudo de Weich et al. (2013), que relatou o aumento da concentração sérica de Ca total após a parturição em vacas que receberam dietas com DCAD negativo por 42 dias em comparação com 21 dias.

Com base nas concentrações séricas de Ca no dia da parturição, 7,0% de todas as vacas seriam classificadas como tendo hipocalcemia clínica (<5,5 mg/dL), 66,7% como tendo hipocalcemia subclínica (5,5 a 8,0 mg/dL) e 26,3% como normais (>8,0 mg/dL). O número de vacas classificadas com hipocalcemia clínica e subclínica foi maior do que o previsto, dado o nível de acidificação da dieta. Uma possível explicação pode ter sido que a ingestão de Ca foi menor do que o desejado. Chan et al. (2006) não observaram nenhuma diferença na concentração sérica de Ca de vacas alimentadas com dietas contendo 0,99 ou 1,50% de Ca e sugeriram que a ingestão de aproximadamente 109 g/d é adequada com base em 11 kg de IMS/d. Em seu ensaio, a produção média de leite para os primeiros 21 DEL foi de 21,7 kg/d. Em contrapartida, a ingestão de Ca no pré-parto foi em média de 112 g/d em nosso ensaio, e a produção média de leite durante as primeiras 6 semanas pós-parto foi de 41,0 kg/d. Com uma maior produção de leite, as necessidades de Ca para a produção de colostro seriam maiores, de modo que a ingestão de 112 g/d pode não ter sido suficiente e contribuiu para as concentrações séricas de Ca mais baixas do que o previsto no dia do parto. As concentrações séricas de Ca foram normais em amostras coletadas durante as semanas 1 a 3 pós-parto.

Moore et al. (2000) relataram que vacas alimentadas com uma dieta totalmente acidificada contendo 1,5% de Ca da dieta no pré-parto apresentaram concentrações séricas de iCa mais elevadas (4,35 vs. 3,85 mg/dL), resultando em menos vacas classificadas com hipocalcemia no dia do parto (0 vs. 50%) em comparação com vacas alimentadas com uma dieta totalmente acidificada contendo apenas 1,0% de Ca da dieta no pré-parto. Oetzel et al. (1988) relataram um iCa maior (4,05 vs. 3,56 mg/dL) e concentrações séricas de Ca total (8,40 vs. 7,40 mg/dL) no dia do parto em vacas alimentadas com uma dieta com DCAD negativo em comparação com uma de DCAD positivo. Além disso, Oba et al. (2011) observaram que vacas alimentadas com uma dieta com DCAD negativo ( -6,4 mEq/100 g) com 0,9% de Ca da dieta apresentaram taxas mais rápidas de recuperação de Ca sérico após um desafio de EDTA, em comparação com vacas alimentadas com a dieta com DCAD negativo contendo 0,3% de Ca. Esses dados sugerem que vacas alimentadas com dietas com DCAD negativo melhoraram a resposta a um desafio de Ca quando receberam concentrações mais elevadas de Ca.

Não foram observadas diferenças entre os tratamentos nas concentrações de outros metabólitos séricos ou minerais no dia do parto, exceto por uma resposta quadrática (P = 0,02) para bicarbonato, que foi menor em 4S em comparação com 3S e 6S (Tabela 5). No entanto, o pH da urina (P = 0,03) e a concentração de K (P = 0,02) exibiram uma resposta quadrática e foram os mais baixos em 4S em comparação com 3S e 6S.

Resposta pós-parto

Foram observados aumentos lineares nas concentrações séricas pós-parto de proteína total (P = 0,04), globulina (P = 0,02), e Na (P = 0,02) com um aumento do tempo fornecendo dietas com DCAD negativo (Tabela 6). Uma resposta quadrática foi observada para a relação de albumina e globulina (P = 0,05) por causa das concentrações mais baixas para 4S em comparação com 3S e 6S. Uma interação tratamento x semana foi observada na concentração sérica de GGT pós-parto (P = 0,01; Figura 4), e tendeu a ser maior para 4S durante as semanas 2 e 3. Não foram observadas diferenças no pH da urina e nas concentrações de minerais entre os tratamentos. Não foram observadas diferenças entre os tratamentos na saúde animal durante todo o ensaio.

As concentrações séricas de proteína total e globulina ficaram dentro dos intervalos normais, e o aumento observado com o aumento do tempo em que as vacas foram alimentadas com a dieta com DCAD negativo mais provavelmente reflete pequenas diferenças na absorção de proteínas e no metabolismo. AST e GGT séricos são frequentemente utilizados como marcadores de doença hepática resultante de doença metabólica ou de estresse (González et al., 2011; Kataria and Kataria, 2012). As concentrações de AST são utilizadas como um marcador sensível de danos no fígado. Em nosso ensaio, as concentrações de AST ficaram dentro dos intervalos normais, sugerindo que as vacas não apresentaram nenhuma lipidose hepática anormal (González et al., 2011). O motivo da interação observada de tratamento x semana (Figura 4) não é claro, pois as concentrações de GGT não aumentaram tanto quanto seria esperado com a formação de lesões no fígado. González et al. (2011) não observaram nenhuma diferença nas concentrações de GGT de vacas classificadas como tendo alta (principalmente no início da lactação) ou baixa (principalmente na lactação média) mobilização de lipídios, com base nas concentrações séricas de NEFA e BHBA.

Não foram observadas diferenças (P > 0,10) entre os tratamentos nas concentrações séricas de Ca pós-parto (Figura 3). A recuperação das concentrações séricas de Ca acima de 8,0 mg/dL ocorreu dentro da primeira semana pós-parto. Martinez et al. (2012, 2014) relataram que vacas com concentrações séricas de Ca abaixo de 8,59 mg/dL dentro dos 3 primeiros dias pós-parto apresentaram redução das concentrações de neutrófilos no sangue, comprometimento da função de neutrófilos, e aumento da incidência de metrite e de metrite puerperal. A concentração sérica de Ca da vaca leiteira periparturiente possui 2 dinâmicas. A primeira envolve a magnitude da diminuição na concentração sérica de Ca após a parturição, e a segunda envolve a taxa de recuperação da concentração sérica de Ca após o início da lactação. Em nosso estudo, a magnitude da diminuição na concentração sérica de Ca comparando a semana -1 com o dia do parto foi em média de 1,5 mg/dL. A taxa de recuperação dentro de 1 semana após o parto foi em média de 1,1 mg/dL. Weich et

al. (2013) não observaram nenhum aumento na concentração sérica de Ca total em nenhum dos grupos de tratamento (controle, DCAD positivo pré-parto, DCAD negativo pré-parto por 21 dias, ou DCAD negativo pré-parto por 42 dias) entre 12 e 24 horas pós-parto. No entanto, após 72 h, foram observados aumentos no Ca sérico total, mas estes valores foram ainda abaixo de 8,0 mg/dL, uma concentração que tem sido utilizada há muitos anos como a concentração sérica normal de Ca esperada para vacas leiteiras periparturientes. Em contraste com a concentração sérica de Ca total, Weich et al. (2013) relataram concentrações mais elevadas de iCa no soro pós-parto. Oetzel et al. (1988) também relataram diferentes respostas entre Ca sérico total e iCa em vacas leiteiras periparturientes alimentadas com cloreto de amônia e sulfato de amônia. Nesse estudo, a concentração sérica de Ca total foi um melhor preditor do status de Ca no dia anterior ao parto, enquanto a concentração de iCa foi um melhor preditor do status de Ca no dia do parto. Esses estudos demonstram que podem existir diferenças entre as concentrações séricas de Ca total e de Ca ionizado, e que a interpretação dos dados por uma dessas medidas pode diferir de e potencialmente contradizer a interpretação dos dados utilizando a outra medida.

A IMS pós-parto não foi diferente entre os tratamentos (P > 0,10; Figura 5). Não foram observadas diferenças entre os tratamentos na IMS média pós-parto, na produção e porcentagem de leite, gordura do leite, lactose, ou SNG (Tabela 4). A porcentagem de proteína do leite tendeu a ser maior para 4S em comparação com 3S e 6S (efeito quadrático: P = 0,10). Uma interação de tratamento x semana para proteína do leite (P = 0,0001; Figura 6) foi detectada, com maior porcentagem para 3S em comparação com 4S e 6S durante a semana 1, e maior porcentagem para 4S em comparação com 3S e 6S durante as semanas 5 e 6. A porcentagem de SNG do leite exibiu uma interação de tratamento x semana e foi maior (P = 0,01; Figura 7) para 4S durante a semana 5 em comparação com 3S e 6S. Não foram observadas diferenças (P > 0,10) na produção de LCE, na eficiência (LCE/IMS) ou nas concentrações de NUL entre os tratamentos.

As maiores porcentagens de proteína do leite e de SNG observadas em 4S são consistentes com as concentrações séricas mais elevadas de proteína total e globulina. O aumento da concentração de proteína no soro observada após o parto sugeriu uma melhoria da regulação do metabolismo após o aumento da exposição a dietas com DCAD negativo (DeGaris et al., 2010).

Os resultados deste ensaio indicam que a alimentação de uma dieta com DCAD negativo por períodos prolongados de tempo antes do parto pode diminuir ligeiramente as concentrações séricas de proteína total, albumina, Ca e K, bem como a diferença aniônica pré-parto, e apoiar os aumentos lineares no soro de proteína total, globulina e Na pós-parto. As alterações nas concentrações de K e Na e na diferença aniônica mais provavelmente refletem as alterações em resposta a um suplemento alimentar e homeostase. A ligeira diminuição na concentração sérica de Ca no pré-parto observada com o aumento do tempo de alimentação com a dieta com DCAD negativo não afetou o Ca sérico no dia do parto ou no pós-parto. As alterações na proteína do leite possivelmente refletem as diferenças no equilíbrio de proteínas, que apoiou as porcentagens ligeiramente mais elevadas de proteína do leite em vacas alimentadas com dietas com DCAD negativo por 4 semanas antes do parto. Em geral, os resultados deste ensaio indicam pequenas diferenças nas concentrações séricas de metabólitos e na excreção urinária de minerais como resultado da alimentação com uma dieta com DCAD negativo por 3, 4 ou 6 semanas antes do parto, mas os efeitos não parecem alterar a saúde das vacas ou seu desempenho pós-parto. Estes dados sugerem que a alimentação com uma dieta com DCAD negativo por mais tempo do que o período de alimentação tradicional de 21 dias pré-parto não afeta negativamente a saúde das vacas ou seu desempenho. Esses resultados são consistentes com as pesquisas anteriores que documentaram os efeitos de uma alimentação prolongada com dietas com DCAD negativo (Block, 1984; Weich et. al., 2013). De um ponto de vista de aplicação prática, esses dados coletivos apoiam o uso de dietas com DCAD negativo em programas de vacas secas de em um único grupo.

REFERÊNCIAS

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